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"O papel da rádio é criar um canal de interlocução entre a UFRJ e a sociedade"

Quase cinco horas diárias: essa é a média de tempo que o brasileiro passa ouvindo rádio, segundo uma pesquisa divulgada pelo Ibope no final do ano passado. Dados que chamam atenção no cenário da comunicação no século XXI, dominado pelas redes sociais. Diferente do que pode parecer, o rádio continua sendo uma importante ferramenta de informação e entretenimento para a sociedade brasileira, principalmente a nível regional. “Se olharmos as últimas pesquisas, tem mais de 80% da população ouvindo rádio diariamente”, afirma Marcelo Kischinhevsky, atual diretor do Núcleo de Rádio e TV (NRTV) da UFRJ. “O rádio é um maravilhoso meio ultrapassado”.

O professor é o convidado da oitava edição da série Por Dentro do Fórum. Na entrevista exclusiva, Kischinhevsky explica um pouco do Núcleo de Rádio e TV, órgão vinculado ao Fórum, fala dos planos, da programação e dos desafios para a Rádio UFRJ. “A gente está trabalhando para colocar a rádio em FM no ar. A população do Rio de Janeiro merece isso e a UFRJ também”.

Em um cenário de desinvestimento público na educação e na cultura, o diretor lembrou do valor de um rádio como ferramenta de comunicação, entretenimento e divulgação do conhecimento produzido na universidade. “É fundamental a UFRJ explorar um canal em FM não só para a divulgação científica ou interlocução com a comunidade acadêmica, mas para estabelecer uma comunicação mais ampla com a sociedade”, explica.

O Núcleo de Rádio e TV da UFRJ

Criado em 2018, o Núcleo de Rádio e TV (NRTV) é um dos órgãos suplementares do Fórum de Ciência e Cultura (FCC). Com natureza interdisciplinar, o Núcleo atua em ensino, pesquisa e extensão, promovendo atividades educativas e culturais. Entre os projetos está o desenvolvimento de uma emissora educativa em FM - a Rádio UFRJ, a ser operada em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em fase de testes desde outubro, a Rádio inicia as transmissões pelo site www.radio.ufrj.br nos próximos dias. Entre as diretrizes estão o oferecimento de uma comunicação pública de qualidade, voltada para a democratização do conhecimento, a diversidade, a representatividade e a inclusão de vozes e expressões culturais. 

A Rádio UFRJ é o principal projeto do Núcleo de Rádio e TV da UFRJ. Poderia explicar um pouco desta iniciativa?
“O Núcleo de Rádio e TV tem como missão fundamental estruturar a Rádio UFRJ, que é uma emissora que está sendo produzida para operar em FM, junto à Empresa Brasil de Comunicação (EBC). [Além do dial FM], também vamos operar em outras plataformas, como pelo site [radio.ufrj.br] e outros serviços de streaming (Spotify, Deezer e Soundcloud). Temos também outras atribuições como apoiar o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) na realização de eventos. Temos gravado várias atividades do FCC e oferecido streaming de vídeo de palestras e eventos importantes relacionados às comemorações dos 100 Anos da UFRJ. [Há ainda] outras atividades que a gente realiza, de extensão e ensino. Todo ano temos cursos voltados para produção radiofônica, com capacitação das pessoas [para atuarem] nas mais diversas plataformas, oficinas de podcasting e, principalmente, as oficinas de locução, que têm sido sempre um sucesso”. Na dimensão da pesquisa, o órgão oferece disciplinas em nível de pós-graduação.

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 Equipe da Superintendência de Comunicação do FCC entrevista o diretor do NRTV

Desde quando o projeto de uma rádio vem sendo pensado? 
“Começa no fim dos anos 80, quando uma turma de alunos da Escola de Comunicação da UFRJ cria uma rádio livre no campus da Praia Vermelha. Essa rádio durou mais de 20 anos no ar e acabou sendo  pivô de um processo que levou a um termo de compromisso entre a UFRJ a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Ministério Público, para a concessão de um canal educativo para a UFRJ. Este canal foi destinado à universidade em 2014, depois dessa longa luta. Então, a gente está trabalhando para levar a cabo essa missão básica: colocar a rádio em FM no ar. Já está em operação a rádio via web, com uma programação preliminar. [No site, estamos] fazendo os testes em relação a como a programação vai se desenvolver no próximo ano”. 

Participação da comunidade universitária
“A escuta da universidade é fundamental nesse processo [de construção da rádio]. Fizemos um ciclo de apresentações da Rádio no fim de 2018 e início de 2019, em todos os campi para que a gente tivesse a oportunidade de explicar para a universidade o projeto e também ter esse retorno da comunidade em relação às suas expectativas. [Consultamos] todas as áreas e todas as categorias de pessoas que fazem parte da comunidade: técnicos, professores, estudantes, terceirizados, para todo mundo se envolver em algum nível. Esses ciclos foram públicos, tiveram uma boa aceitação, mas a gente não ficou só nisso. 

Realizamos uma pesquisa de opinião, com o apoio do professor Cristiano Santos, da Escola de Comunicação, que foi fundamental. A gente aplicou um questionário online usando todos os grupos das comunidades da UFRJ, unidades e centros, para disseminar e ter o maior número de respostas. Tivemos praticamente 400 respostas. Um número expressivo, a maioria de estudantes, o que mostra o interesse do público mais jovem pelo projeto de uma rádio universitária. As respostas foram fundamentais para balizar o que esperamos dessa rádio, o que planejamos oferecer para o público em termos de conteúdo e política editorial, o que a gente espera produzir atendendo a essas expectativas da comunidade”. 

A Rádio como canal de interlocução entre a UFRJ e a sociedade
“A UFRJ é uma pequena cidade, com mais de 60 mil habitantes e mobiliza cinco vezes esse número de pessoas (300 mil), se a gente considerar os familiares e todas as pessoas envolvidas com a universidade, direta e indiretamente. A expectativa do projeto da rádio é estabelecer um canal de comunicação não só com a comunidade interna, que já é um desafio tremendo, mas também atingir o público externo. Criar um canal de interlocução entre a UFRJ e a sociedade, que é o papel de uma rádio universitária. [Ela] precisa estabelecer pontes, diálogos, fazer circular o conhecimento gerado na universidade para todas as camadas da sociedade, para que a gente não fique com o conhecimento restrito ao círculo dos especialistas. 

A gente entende esse desafio como o número um do projeto: pôr em circulação o conhecimento produzido na universidade é fundamental, mas não só fazer a universidade ser conhecida pela sociedade e reconhecida pelo seu papel de produtora de conhecimento, mas também ouvi-la: entender suas necessidades, demandas, que também vão ajudar na produção de conhecimento mais a frente, que vão ser um input importante para as pesquisas acadêmicas. Temos que entender que não estamos em uma ilha. Estamos envolvidos em uma sociedade que tem uma série de dificuldades. A universidade tem que estar envolvida no dia a dia [da sociedade] para tentar melhorar a vida das pessoas”. 

Projeto de rádio FM 
Em termos burocráticos, Kischinhevsky explica que o principal desafio é destravar a parceria com a EBC e inaugurar a rádio em FM. Ele lembra que a EBC “passou por uma série de dificuldades, teve diversas direções nos últimos quatro anos, o que prejudicou o andamento  das negociações para viabilizar o canal de FM no Rio de Janeiro. Os outros são desafios que nos dão muito prazer: estabelecer essa interlocução com a comunidade acadêmica, nos tornarmos relevantes para a audiência que integra a comunidade – estudantes, professores, técnicos-administrativos, terceirizados, [além de] alunos do ensino médio que pensam em fazer vestibular e querem entrar na UFRJ. Esperamos  estabelecer a interlocução com esses públicos e com a comunidade do ponto de vista mais amplo”.

O que o público pode esperar da programação da Rádio UFRJ?
“A grade está sendo construída. O que temos hoje no site rodando é uma programação preliminar que estruturamos a partir das expectativas identificadas na pesquisa e em uma série de levantamentos que fizemos em relação à programação de outras rádios universitárias. A gente estabeleceu alguns parâmetros em relação à programação musical, que envolvem, por exemplo o que deveria ou não fazer parte da programação. A música independente que não tenha espaço nas outras emissoras comerciais por exemplo. A gente decidiu privilegiar os artistas que não têm vez em outras emissoras mainstream, que tem uma programação de caráter mais comercial”.

Interlocução entre gêneros e uma programação musical diferente
“Estamos buscando construir uma transição suave entre os diferentes gêneros musicais para que eles se coloquem em diálogo: um samba, uma MPB contemporânea, um rock, um hip-hop, um afrobeat, todos eles dialogando de uma forma suave, em que nada fique parecendo estar acontecendo de forma brusca. A gente acredita que é possível estabelecer essa interlocução entre os vários gêneros musicais a partir do momento em que a pessoa estiver interessada em se surpreender com uma programação musical diferente”. 

Programação informativa
“Não queremos ter uma programação só musical, mas também informativa. Para isso a gente precisa ter o envolvimento da universidade. Ela vai ser chamada a participar, a propor programas e a gente vai fazer um estudo de viabilidade dessas propostas para ver o que podemos integrar na grade de programação, o que vai para o site (...) e a gente transformar isso em um projeto pedagógico para envolver a universidade cada vez mais. A grade só vai ser finalizada em 2020, a partir do momento em que tivermos o resultado da chamada pública que estamos estruturando. [A chamada está em produção e será lançada em breve] para que a universidade e possíveis parceiros externos ofereçam a possibilidade de produzir conteúdos para a rádio”.  

“Canal apropriado para comunicar a ciência”
Em contexto de ataque às instituições públicas de educação e à produção científica pelo qual o Brasil vem passando, Kischinhevsky comentou sobre o papel do rádio como poderosa ferramenta poderosa de comunicação e divulgação científica. “A rádio é uma possibilidade, uma janela, para que toda a universidade pense na divulgação de seus próprios conhecimentos, das suas áreas de conhecimento para o grande público. Ela é um canal apropriado para comunicar a ciência para o grande público”.

Muito se fala hoje do rádio como um meio de comunicação já ultrapassado. O que você pensa sobre isso? 
“O rádio é um maravilhoso meio ultrapassado”, brinca o diretor. “A radiodifusão tem 100 anos no Brasil, mas ela continua extremamente relevante na vida das pessoas. Se a gente olha as últimas pesquisas, você tem mais de 80% da população ouvindo rádio diariamente”. Uma das últimas pesquisas Ibope mostra que, no Brasil, as pessoas ouvem, em média, quase cinco horas de rádio por dia.

"Então, esse é um canal de comunicação muito poderoso e é importante a gente estar presente. É fundamental a UFRJ explorar um canal em FM não só para a divulgação científica e tecnológica ou para a interlocução com a própria comunidade acadêmica, mas para estabelecer essa comunicação mais ampla com a sociedade. A UFRJ é uma das últimas grandes universidades do país que não tem uma rádio. Falta ela integrar esse clube para a gente ter uma rádio universitária que seja relevante a nível local como outras que a gente tem hoje no país. A população do Rio de Janeiro merece isso e a UFRJ também merece isso, depois de 30 anos de luta”. 

Trajetória 
Marcelo Kischinhevsky é professor do Núcleo de Rádio e TV desde setembro de 2018. É também professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ). Sua relação com a UFRJ é de longa data: Marcelo foi aluno da graduação do curso de Comunicação, onde se formou em jornalismo. Depois, aluno do curso de pós-graduação, onde fez mestrado e doutorado. Em setembro de 2019, assumiu a direção do Núcleo de Rádio e TV da UFRJ, vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura.

Correspondência

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