176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

Projeto oferece aulas gratuitas de música durante a pandemia

Matéria publicada em "O Globo" (15/10/2020 ) destaca o projeto Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos), que é desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Funarte e já ofereceu treinamento gratuito para mais de mil alunos.

Projeto oferece aulas gratuitas de música durante a pandemia

Iniciativa da UFRJ em parceria com a Funarte disponibiliza capacitação para regentes e músicos pela internet

Paula Ferreira 

Reprodução
Professores do Sinos dão aulas de música e regência.

BRASÍLIA — Um projeto de capacitação gratuita de músicos e regentes previsto para o ano de 2020 teve que ser totalmente reformatado por conta do surto de Covid-19. Sem a possibilidade de aulas presenciais, o programa foi reformulado para atender, de forma voluntária, alunos de todo o país. Desde julho, o Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos), que é desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Funarte, já ofereceu treinamento gratuito para mais de mil alunos.

Com o objetivo de atuar na formação de músicos para composição de orquestras-escola em todo o país, o Sinos previa inicialmente oito linhas de atuação já este ano. Porém, em respeito aos protocolos de isolamento social, metade delas teve que ser suspensa temporariamente (Projeto Orquestra, Academia de Ópera, Orquestra e Festivais de Música) e as demais passaram a ser ministradas on-line (Pedagogia para Cordas; Projeto Espiral – Capacitação Instrumental de Jovens Músicos; Sinos e-Orquestra e Academia de Regência)..

 — Havia uma série de ações planejadas, todas presenciais. A pandemia nos fez reformular tudo. Haveria uma série de "Caravanas Sinos", que seria um grupo de professores que se deslocam em uma determinada cidade para dar aulas a alunos e professores daquela região. Na pandemia, tudo foi passado para o meio digital — conta André Cardoso,  professor da escola de música da UFRJ e coordenador do projeto Sinos. —  Reorganizamos toda a ação pedagógica, organizamos uma série de videoaulas com professores de todo Brasil, gravando videoaulas e elas entram no ar aos poucos. Tem videoaula para capacitação de professores dos projetos, outras destinadas aos alunos e aindas aquelas voltadas aos regentes das orquestras dos projetos sociais.

Aulas são publicadas no Youtube, com acesso liberado

Qualquer pessoa pode ter acesso às aulas, que são publicadas no YouTube e funcionam como cursos livres. Há aulas tanto para quem deseja aprender técnicas de um determinado instrumento, quanto aulas técnicas de pedagogia e didática para os que pretendem ser professores de determinado instrumento.

Como as aulas são de música, a transmissão pela internet traz desafios em relação ao ritmo e outras questões, uma vez que a conexão pode gerar atraso nas imagens e sons. A dificuldade, no entanto, não é um obstáculo para a violinista e professora Carla Rincón.

— Acho que o mais importante é manter o contato com os alunos e a motivação. As dificuldades com os outros recursos sonoros, que a gente obviamente prefere ao vivo, são contornáveis. Nossos alunos se veem na necessidade de fazer vídeos gravados devido ao dellay ou à ausência de conectividade. Muitos não têm espaço no celular para ter mais um aplicativo ou internet para carregar os dados. Se eu mantenho esse aluno motivado a estudar, estar comigo nas aulas, mesmo sabendo as dificuldades, quem sou eu para criticar o som? Isso a gente vê depois — afirma a professora.

Carla Rincón é venezuelana e vive no Brasil há 17 anos. A professora também foi aluna de um projeto social em seu país de origem e teve sua vida transformada pela música. Na opinião dela, os projetos sociais têm um papel fundamental no desenvolvimento de músicos em um país tão desigual como o Brasil.

— Participar do Sinos é devolver ao universo bastante do que recebi. Acho que projeto social é ideal para ensinar música. A universidade é necessária, eu também cursei a universidade de música, mas a capacitação  e o auxílio que os projetos dão aos alunos que, muitas vezes, não têm nem como comprar um instrumento, uma corda, fazer uma xerox, é fundamental. E preciso fazer músicas que estão acostumados a ouvir. Acredito nisso como uma maneira de inserção para os jovens da comunidades. A música brasileira tem uma variedade rítmica atraente — explica.

Transformação de realidades

Aluna do projeto Sinos e monitora do Instituto Zeca Pagodinho, em Xerém, Ana Carolina Cardeira, de 20 anos, conta que a música foi uma ferramenta importante de socialização e transformação da sua realidade. Ex-aluna do Colégio Estadual Monteiro Lobato, em Duque de Caxias, a estudante cursa o primeiro ano da Licenciatura em Música na Unirio e participa das aulas on-line do Sinos.

— Participo das lives do Sinos, é bem interativo e bem explicativo. É um incentivo à cultura. Como é aberto para todos e a divulgação é bem pensada, é muito bom porque, durante a pandemia, muitos jovens acabam passando a maior parte do tempo na internet sem fazer nada. A partir desses projetos sociais, as pessoas passam a se interessar por outras coisas e isso acaba mudando a visão de muita gente — opina.

O coordenador do projeto, André Cardoso, fala sobre a importância de manter a iniciativa apesar da pandemia. Segundo ele, com boa parte das salas de concerto fechadas, os projetos on-line têm uma relevância ainda maior:

—  Há vários exemplos no Brasil todo de projetos sociais que impactaram as pessoas e, consequentemente, suas comunidades. Muitos projetos sociais pararam suas atividades porque muitos dependem de verbas, de patrocinadores, da programação de concertos e as salas estão fechadas. Há projetos sociais que são vinculados a escolas públicas e não estão funcionando. Por isso, mantivemos o Sinos, para que esses alunos tivessem alguma atividade.

Correspondência

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