176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

A importância do ensino da Música de Câmara na formação dos discentes

Ana Paula Da Matta (foto), Doutora em Música na linha de Documentação e História da Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, com estágio de doutorando na Université de Paris IV- Sorbonne; Pós-Doutora, Mestre e Bacharel em Piano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Performer Diploma em Piano pela Indiana University, na classe de Menahem Pressler e Especialização na Hochschulefür Musik Köln, com o pianista Pavel Gililov, pianista camerista com longa experiência e docente da disciplina Música de Câmara na Escola de Música da UFRJ, destacou na entrevista o que segue.

  Nadeja Costa
 

Além do privilégio de ter sido orientada por Menahem Pressler, que atravessou metade do século XX acumulando muitos prêmios internacionais como pianista do Trio Beaux-arts, considerado por mais de quarenta anos um dos mais importantes grupos camerístico do mundo, tornou público que aprendeu também com ele parte significativa do trabalho da prática camerista.

Desse conjunto de realizações acadêmicas, artísticas e profissionais, Paula Da Matta, que junto a Ivan Nuremberg e Rubens Schuenck se encarregam do ensino da disciplina Música de Câmara I a IV, teceu sobre o tema as considerações expostas no que segue.

Frente ao fato da música de câmara ser uma prática extremamente democrática, já que entre os princípios que a orientam consta a exigência dos músicos saberem tocar em conjunto, uma prática dificílima que, por sua vez, exige que os membros do grupo se escutem, se respeitem e se entendam nas questões estéticas e técnicas relacionadas à abordagem do repertório que querem apresentar ou, falando metaforicamente, que saibam fazer suas vozes cantarem harmoniosamente com os outros instrumentistas, para Paula Da Matta o substantivo que define a música de câmara é o diálogo.

Para ilustrar esta afirmativa, a docente trouxe à lembrança que nenhum grupo importante de música de câmara como, por exemplo, o Quinteto Villa-Lobos, poderia ostentar uma existência tão longeva se não tivesse por bússola a certeza de que a música de câmara é um diálogo e não um monólogo. Não poderia exibir com legítimo orgulho seis décadas de atuação ininterruptas se os ensaios não fossem contínuos, se os membros do quinteto não fizessem um investimento de tempo na organização e no estudo dos repertórios que têm apresentado.

No que tange ao ensino da música de conjunto na Escola de Música, informou que o modelo de repertório utilizado é o canônico. Isso porque, para além de fazer parte da ementa da disciplina Música de Câmara que é ministrada em quatro semestres, esse repertório favorece o aprendizado do aluno, uma vez que são nele abordadas as dificuldades estéticas apresentadas nas peças musicais, estejam essas dificuldades relacionadas às suas construções de andamento e as das graduações dos níveis de intensidade dos sons durante as execuções das mesmas, ou estejam relacionadas à outras questões.

Mas, ao contrário do que se possa pensar, Paula Da Matta explicou que esse olhar muito de perto sobre o repertório canônico termina por favorecer uma prática musical muito profunda que faz com que o aluno esteja mais capacitado para, no futuro, exercer a profissão de instrumentista.  Seja essa capacitação utilizada para tocar qualquer tipo de música popular, jazz ou para fazer formações completamente diferentes como, por exemplo, uma instrumentação típica do choro. Como exemplo dessa afirmativa lembrou que, na Escola de Música, Jorge Armando, um professor já aposentado, gostava muito de fazer o repertório popular, lançando mão dos princípios da prática camerista.

Fez saber ainda que essa prática, favorece igualmente a atuação do aluno em uma orquestra sinfônica, mesmo que por natureza seus naipes sejam muito grandes e mesmo que a concepção estética da obra provenha da interpretação que o regente dela faz, uma vez que, quando for nela tocar já detém o conhecimento do repertório que ela executa. E mais: ele aprendeu a emitir sua voz instrumental de forma harmônica idêntica àquela com a qual a orquestra constrói uma peça musical.

Quanto à importância da prática camerística no futuro dos egressos, Paula Da Matta observou que o mercado dos dias atuais não é o mercado do século XIX, no qual a figura do solista tinha destaque e existia um número significativo de salas de concertos. O mundo do trabalho do músico profissional é hoje em grande parte formado por grupos e, consequentemente, pouco afeito a instrumentistas que não saibam tocar em conjunto e restritos a um único tipo de repertório.

A respeito de seu trabalho docente, Paula Da Matta informou que às vezes possui turmas constituídas por formações muito heterogêneas, mas que não é raro acontecer de, em um semestre, ter uma turma com quatro trompetes, ou ter nela formações tão inusitadas que não se consegue fazer com que encaixem em um repertório. Nesses casos, disse ser habitual solicitar que os docentes do maravilhoso Departamento de Composição da Escola de Música da UFRJ componham para tais turmas, assim como é natural o trabalho do ensino da música de câmara ser realizado em alguns casos com transcrições.

E não escondeu sua alegria ao dizer que a comprovação da importância da prática camerista na formação dos alunos é evidenciada, quando após os quatro períodos cursados os escuta dizerem que: “as aulas mudaram suas vidas no sentido de trazer um novo olhar em relação ao que é fazer música, o que é abordar um repertório, desenvolver uma concepção, ouvir, dialogar com as vozes e entender como elas se entrelaçam”.

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