176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

Escola de Música da UFRJ sediará concerto do projeto Música em Liberdade, que mistura violino e sonoridade eletrônica

O turbulento período entre os anos 1974 e 1975 foi uma fase de transformações políticas e sociais profundas em Portugal, marcando a transição do regime ditatorial para a democracia. Durante este capítulo da história moderna portuguesa denominado de Processo Revolucionário em Curso (PREC), a interseção entre política e cultura deu origem a um caldeirão de expressões artísticas e musicais que desafiou as convenções até então estabelecidas.

 
  

Esse contexto revolucionário não apenas reconfigurou as bases políticas e sociais, mas também reverberou nas esferas culturais, desencadeando uma explosão de criatividade artística. É com inspiração nesse quadro histórico que o projeto Música em Liberdade evoca os momentos em torno do PREC numa proposta cultural que reflete a pluralidade de estéticas desse período efervescente, bem como as quebras de barreiras políticas, sociais e culturais que impactaram fortemente as artes, em especial no território português.

Com passagens pelas cidades de Salvador, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro, o projeto Música em Liberdade —que consiste numa digressão brasileira do Ensemble DME (fundado em 2013), que por sua vez integra o Projecto DME (criado em 2003 pelo compositor Jaime Reis) — promete trazer uma experiência única ao público, unindo as raízes culturais de Portugal e Brasil em uma celebração da liberdade artística.

A apresentação em terras cariocas terá como palco o Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ, na terça-feira, 29/08, no horário das 18h. No concerto de música mista do grupo DME, de Portugal, o compositor Jaime Reis (eletrônica) se apresentará ao lado da violinista Beatriz Costa.

“Tocamos um repertório que tem relação com essa temática da liberdade, nomeadamente uma peça do compositor Jorge Peixinho, CDE, que é um acrônimo não só pras notas Dó, Ré, Mi, mas também para assinalar o movimento democrático português ainda durante o tempo da ditadura para a criação da Comissão Democrática Eleitoral, por exemplo.Para o Rio de Janeiro apresentaremos, ao lado da violinista Beatriz Costa, peças de jovens compositores que têm também uma relação com a liberdade”, comentou Jaime Reis.

O músico destacou algumas dessas peças do repertório do concerto carioca, em especial uma da professora ucraniana Alla Zagaykevych, que segue lecionando no Conservatório de Kiev apesar dos bombardeios que seu país sofre há vários meses.

“A obra do Hugo Xavier Almeida se chama Declamação e é toda baseada na prosódia de um poema bem forte de uma artista portuguesa. Sua colega, compositora Marta Domingues, fez uma obra chamadaSer-se Som no Escuro, assinalando as dificuldades de viver perante a censura em governos autoritários. Teremos também peças de Clotilde Rosa, uma compositora portuguesa que batalhou muito pela liberdade ainda no tempo da ditadura. Finalmente teremos uma peça da compositora ucraniana Alla Zagaykevych, que é professora no Conservatório de Kiev, onde continua dando aulas mesmo debaixo dos bombardeamentos, bem como cozinhando para os soldados ucranianos e ajudando pessoas ao longo dessa crise humanitária. Será uma celebração da música contemporânea em geral”, pontuou Jaime Reis.

Segundo Pedro Sousa Bittencourt, professor adjunto de saxofone do departamento de sopros, pesquisador do PPGM/UFRJ e líder do grupo de pesquisa Performance Hoje, a união do violino, um instrumento muito popular na música clássica, com uma camada sonora eletrônica, por si só, já simboliza muito bem, no âmbito musical, essa ideia de liberdade.

“O programa tem compositores de diferentes gerações, dediferentes nacionalidades. A ideia é traçar uma panorâmica da heterogeneidade não só do período das obras, mas também uma estética, com peças de sonoridades e materiais bastante diferentes entre si. Quanto à ideia de liberdade, do ponto de vista musical, ela se faz presente justamente ao utilizar o violino, instrumento muito conhecido na música clássica, para tocar um repertório contemporâneo fazendo diversas sonoridades e ruídos, empregando técnicas estendidas, mas que podem ser entendidos também como recursos naturais, como sons que se fazem naturalmente com o instrumento, mas que não são tão explorados na música clássica. E, a partir daí, alargar os horizontes e a paleta sonora, incluindo novos recursos auditivos para serem apreciados”, comentou o professor.

O projeto, que recebeu apoio financeiro do Ministério da Cultura de Portugal(Direção Geral das Artes), não só resgata as raízes históricas, mas também busca inspirar diálogos e reflexões sobre a interseção entre música, liberdade e transformação social. "Música em Liberdade" não é apenas uma viagem nostálgica ao passado, mas um convite para compreender como o legado do PREC pode continuar a ecoar na cena musical do século XXI, especialmente em Portugal e no Brasil.

O evento é gratuito. A Escola de Música da UFRJ fica na Rua do Passeio, 98, na Lapa.

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