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Ação estratégica da EM viabilizou restauração de acervo histórico nas celebrações do Bicentenário da Independência

O ano passado foi marcante para a Escola de Música da UFRJ. Ao longo de 2022, um conjunto de documentos que integram o acervo da Biblioteca Alberto Nepomuceno (BAN) ganhou o noticiário nacional em função das celebrações do bicentenário da independência. Considerados verdadeiras joias da Escola, os manuscritos em questão não registram notas, pausas e claves quaisquer: são as partituras originais dos Hinos Nacional, da Bandeira, da Independência e da Proclamação da República.

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Ainda em abril de 2022, pela primeira vez, os documentos raros deixaram as dependências da instituição. Sob escolta da Polícia Militar, o material seguiu de avião para Belo Horizonte, onde foi recebido em uma cerimônia oficial que contou com os Dragões da Independência. Junto das composições históricas e símbolos nacionais, constavam também o Hino da Feliz Aclamação de D. João VI e Estrela do Brasil, além de outros documentos que integraram o processo de construção das respectivas melodias.

Inicialmente, uma parte do acervo foi exibida ao público na exposição “Já Raiou a Liberdade: Hinos do Brasil”, no Palácio da Liberdade, antiga sede administrativa do governo e residência oficial dos governadores de Minas Gerais. O restante do material seguiu para o Arquivo Público Mineiro, instituição nacionalmente reconhecida pelo trabalho de recuperação estética de documentos antigos.

Lá uma equipe técnica, em conjunto com especialistas da Escola de Belas Artes da UFRJ, atuou na remoção manchas e do amarelecimento natural do material, e também na recomposição do papel das partituras, que se tornou quebradiço por conta do passar do tempo. Além disso, pequenos rasgos também foram preenchidos com enxertos através de um processo mecânico de higienização.

“Recuperar e resguardar esses documentos é trazer ao presente a memória viva para que outros brasileiros possam conhecer os símbolos que nos unem como nação”, disse na ocasião o maestro Marcelo Jardim, vice-diretor da Escola de Música da UFRJ.

Em contrapartida pelo trabalho, as partituras ficaram expostas na antiga sede do governo de Minas até o fim de agosto. A iniciativa, que abriu as comemorações do Bicentenário da Independência, foi organizada pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) em parceria com o programa Arte de Toda Gente, da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e UFRJ, com curadoria da Escola de Música.

De Minas Gerais, os hinos seguiram para Brasília, onde a partir de setembro de 2022, ficaram expostos no Palácio do Planalto. Na exposição “Hinos do Brasil”, além de conferir as partituras, o público também teve a oportunidade de ouvir um duo de piano e flauta executar as peças ao vivo, além de um repertório com obras relacionadas.

Para Ronal Silveira, diretor da Escola de Música da UFRJ, a iniciativa marcou um novo momento de percepção e valorização do nosso patrimônio. “Um povo se reconhece de várias formas, e o símbolo da música pátria inspira este pertencimento, que é, muitas vezes, apenas subliminar. Restaurar e expor este material de grande valor histórico é permitir a valorização da nossa cultura, promovendo a consciência de ser brasileiro”, enfatizou.

No início de novembro, durante a Rio Innovation Week, foi lançada também uma versão virtual da exposição, que pode ser acessada através do endereço a seguir: https://artedetodagente.com.br/hinosdobrasil. No final de 2022, agora plenamente restaurado e pronto para outros séculos de história, o acervo retornou ao seu lar: a Escola de Música da UFRJ.

Sobre os hinos

O hino mais antigo que foi restaurado é de 1816 – Estrela do Brasil, de José Joaquim de Souza Negrão, que fora dedicado ao príncipe D. Pedro. O mais recente é o Hino à Bandeira, de 1906, de Francisco Braga, sobre poema de Olavo Bilac. Diversas curiosidades cercam as partituras. Uma delas é que a obra mais antiga se assemelha a uma ária de ópera e foi composta por Marcos Portugal, que foi o professor de música de Dom Pedro I. O outro manuscrito é a composição original do imperador, que, na tarde de 7/9/1822, musicou os versos do jornalista, político e poeta Evaristo Ferreira da Veiga e Barros. Aliás, a composição se tornou o primeiro hino do país, logo após o grito do Ipiranga. Mas teve vida curta, pois, a partir da abdicação de Pedro I, outro hino antilusitano conquistou os brasileiros.

Essa foi a primeira versão do atual Hino Nacional Brasileiro, composta em 1831 por Francisco Manuel da Silva e com letra de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva. Seus versos retratavam a insatisfação com os portugueses do primeiro império. Por muito tempo, ficou conhecido como “7 de abril” – a data da abdicação – e depois levou o nome de “Marcha Triunfal” até ganhar nova letra, em 1841, quando da coroação de Pedro II. Dessa vez, os versos exageravam nos elogios ao soberano que nasceu no país e vigorou até o golpe que o derrubou, em 1889.

O governo que se instalou sob a liderança do marechal Manuel Deodoro da Fonseca organizou um concurso público para escolher um novo hino, empenhado em solapar os legados monárquicos e substituí-los por símbolos nacionais republicanos. Quem ganhou a disputa foi Leopoldo Américo Miguez, à época diretor da Instituto Nacional de Música, antecessor da Escola de Música da UFRJ, com o hino que diz “Liberdade, liberdade / abre as asas sobre nós”. Reza a lenda que o marechal Deodoro decidira-se por manter a antiga melodia, uma vez que a população a cantava entusiasmada em festas, antes de serem os hinos tão associados a solenidades e ao militarismo.

Segundo texto publicado no site do Senado Federal, nos festejos do segundo mês da Proclamação da República, no Palácio Itamaraty, sede da Presidência, o ministro da Guerra, Benjamin Constant, apresentou a Deodoro os argumentos pela conservação do antigo hino. Aos primeiros acordes da antiga melodia, que era tocada com vigor pelos músicos que se apresentavam no Itamaraty, o público que acompanhava as celebrações entrou em pânico, acreditando se tratar de uma senha para a deflagração de um contragolpe para derrubar Deodoro e restabelecer a monarquia.

O governo provisório autenticou a antiga música, mas a letra não. Ela então passou a ser executada por instrumentos. Em 1906, outro diretor do Instituto Nacional de Música, o maestro Alberto Nepomuceno, percebeu diferenças na execução do hino pelas bandas militares durante a posse do presidente Afonso Pena. Ele decidiu comparar com a partitura original, composta no início do império pelo maestro Francisco Manoel da Silva, mas depois convenceu Afonso Pena a realizar um novo concurso público para a escolha de novos versos para o hino.

O poeta Joaquim Osório Duque-Estrada escreveu o poema que encantou o diretor do Instituto Nacional de Música. Alberto Nepomuceno decidiu imprimir várias cópias da letra, enviando-as para escolas e quartéis de todo o país, para que, mesmo sem ser oficial, começasse a ser aprendida por todos. Todavia, só em 1922, à véspera das celebrações pelo centenário da independência e sob gestão do presidente Epitácio Pessoa, os versos do poeta Duque-Estrada foram reconhecidos por meio do decreto nº 4.559, de 21 de agosto de 1922, enquanto a versão corrente do hino foi oficializada como símbolo nacional pela lei nº 5.700, de 1º de setembro de 1971, publicada no Diário Oficial (suplemento) de 2 de setembro de 1971.

* com informações de Sidney Coutinho e Conexão UFRJ

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