“Colombo”, de Carlos Gomes (1836-1896), é a atração o último programa de julho de Concertos UFRJ. Nomeado um Poema Vocal-Sinfônico pelo autor, para atender às normas do concurso para o qual o trabalho foi escrito, a obra apresenta, porém, a estrutura e as características de uma ópera e tem sido, com alguma frequência, montada sob esta forma.
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Última obra lírica de Carlos Gomes, foi escrita para as comemorações do quarto centenário da viagem de Colombo. Um concurso selecionaria uma cantata a ser executada durante a “Exposição Universal de Chicago”, nos Estados Unidos, mas o compositor acabou não a enviando. Ofereceu-a, porém, ao comitê organizador das Festas Colombianas da cidade de Gênova que, entretanto, preferiu uma peça de Alberto Franchetti.
A estreia mundial ocorreu em 12 de outubro de 1892, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, tendo sido recebida com frieza. Foi Villa-Lobos (1887-1959), atento às características dramáticas da partitura, o primeiro encená-la como ópera, em 1936, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na verdade, a segunda audição da peça, que não havia sido novamente executada.
O libreto de “Colombo” é atribuído a certo Albino Falanca, que seria o pseudônimo do escritor e político Aníbal Falcão (1859-1900), a quem Carlos Gomes encomendou o argumento da obra. Essa não é, porém, a única hipótese. O musicólogo Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, por exemplo, afirma que o texto é de Angelo Zanardini, que havia colaborado anteriormente com o compositor. Por fim, há a possibilidade de a autoria ser do próprio Gomes.
Uma curiosidade, em carta a Escragnole Dória, datada de seis de junho de 1892, o compositor fala com humor da obra, apesar das dificuldades por que passava: “Já sabes que não era possível deixar passar este centenário colombiano sem dar sinal de vida. O tal ‘nhô-Colombo’ andou em 1492 agarrando macacos pelo mato e metendo medo na gente. Eu, porém, que sou meio ‘home’, meio ‘macaco velho’, acabo de me vingar dele, pois agarrei no tal ‘nhô-Colombo’ e botei-o em música, desde o Dó mais grave até a nota mais aguda da rua da amargura. Estou vingado, arre diabo...!”.
A versão veiculada traz, nos papéis principais, Inácio De Nonno (barítono), como Colombo, Carol McDavit (soprano), como Isabel de Castela, Fernando Portari (tenor), como Fernando de Aragão, e Maurício Luz (baixo), como Frade. Coro e Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFRJ (OSUFRJ), estão sob a regência de Ernani Aguiar. A gravação, pelo Selo Fonográfico UFRJ/Música, é 1998 e ganhou no mesmo ano o prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), como “Melhor CD”, e o SHARP de 1999, como “Melhor CD, Categoria Erudito”.
O programa radiofônico Concertos UFRJ é resultado de uma parceria da Escola de Música (EM) com a rádio Roquette Pinto. A série conta com a produção e apresentação de André Cardoso, docente da EM e regente titular da Orquestra Sinfônica da UFRJ (OSUFRJ), e vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, pela Roquette Pinto, na sintonia 94,1 FM. Contatos através do endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Colombo Poema Vocal-Sinfônico
Antônio Carlos Gomes, música. Albino Falanca, libreto.
Parte I
Próximo ao Convento de La Rabiba. Noite fria e escura. O vento sopra a intervalos. O mar murmura ao longe. Canto longínquo de pescadores. Coros internos no Convento.
Em uma noite fria e escura Colombo procura o caminho para o convento onde espera encontrar consolo para a decepção de não realizar o sonho de descobrir novas terras. Ao longe um coro altivo de pescadores, que não temem sair ao mar com o mau tempo, contrasta com o desânimo de Colombo. Em momento de desespero pede que o mar seja seu túmulo definitivo. Ouve então uma “Ave Maris Stella” e o som do órgão do convento que o acalmam. Pede por fim que a “divina fé” o sustente nesse momento difícil e bate à porta do convento. Atende um frade que lhe pergunta o que quer, a quem Colombo diz que deseja “luta, perigo e glória” e sonha descobrir um novo mundo além do Atlântico. O diálogo prossegue e Colombo lhe confessa que sua vontade de partir em busca de novas terras se deve a uma decepção amorosa. Canta a ária “Era um tramonto d’oro” que diz que seu amor “parecia a primeira flor desabrochada nos jardins do Senhor”. Mas que “aquele sonho de amor tornou-se uma ilusão”, pois ao voltar de uma viagem não mais a encontrou. O Frade aconselha-o a refugiar-se no convento, mas Colombo recusa e pede que o leve à Corte para expor aos Reis suas ideias. O frade concorda, porém alerta que Colombo poderá encontra a morte. Empolgado responde que encontrará a vitória. No interior do convento é entoado um “Te Deum”.
Parte II
No Palácio Real
Na Corte, o povo celebra a vitória contra os Mouros. Mães e esposas dos soldados festejam o fim da guerra. O Rei Fernando conclama todos para que peguem em armas toda vez que for necessário para a glória da Espanha e libertação das Terras Sagradas. Isabel, louvando a coragem e beleza do marido, inicia o dueto romântico que, após réplica de Fernando, termina com Isabel pedindo que ele acredite no instinto da mulher que o ama, pois assim vencerá. Entram Colombo e o Frade que pede a rainha que “ouça a voz de um profeta”. Colombo começa a descrever seu sonho de um “mundo sublime e ignorado” perante um Rei descrente e o povo que exclama ser tal a “visão de um louco” uma “aberração”. Isabel, impressionada com as palavras de Colombo, afirma que ele é um profeta enviado do céu. Fernando, por sua vez, não está convencido, diz que não pode ceder a tal tentação e que Colombo delira. A multidão está dividida e diante do impasse e dúvida de Fernando, Isabel pede que confie em Colombo, a quem finalmente o Rei decide fornecer marujos e navios. Entusiasmados, todos proclamam a glória do soberano.
Parte III
Em alto mar.
A bordo da caravela Santa Maria, Colombo e a tripulação estão em plena calmaria. Um pequeno interlúdio orquestral descreve o ambiente inerte. Os marinheiros já estão descrentes do sucesso da viagem. Subitamente o tempo muda, o mar se agita e começa a tempestade. A tripulação se desespera acreditando ser a “ira do céu” e que Colombo os levará à morte. Clamam para que conduza o navio em direção norte. Colombo se nega afirmando que não terão a salvação se forem em tal direção e pede que não tenham medo e confiem nele, suplicando a clemência de Deus. A tempestade vai se abrandando e volta a calmaria. Os marinheiros tornam a ter esperanças. Ao longe, ouve-se um tiro de canhão e uma voz grita “Terra!”. Surpresos, todos a bordo agradecem a Deus: “Hosana! Salve! Glória ao Senhor!”.
Parte IV
Na Ilha
Os índios executam suas danças. O clima de suspense é criado pelos instrumentos graves descrevendo o desembarque dos espanhóis e as desconfianças dos nativos. É executada a “Dança Espanhola”, um solo de trompete em ritmo de “habanera”. Termina com a volta da “Dança Indígena”.
Na Baía de Barcelona
Nova cena, na Baía de Barcelona, descreve o retorno de Colombo, sendo recebido pelo povo ao som de sinos e fanfarras.
No Palácio Real
Na Corte, Isabel recebe Colombo saudando a vitória do reino de Castela. Este, por sua vez, se diz cumpridor da promessa feita e mostra um cortejo de índios. Ouve-se novamente um trecho da “Dança Indígena”. Fernando saúda-o como “imortal conquistador”. Isabela inicia o “Hino ao Novo Mundo” e todos exclamam: “Salve, ó Terra Ocidental. Primogênita serás de uma nova humanidade |