Novos compassos no Teatro Municipal, Sala Cecília Meireles e Escola de Música da UFRJ

Matéria publicada (24/07/2015) no Jornal O Globo e replicada no site do periódico. 

 

Novos compassos no Teatro Municipal, Sala Cecília Meireles e Escola de Música da UFRJ Direção recém-empossada no Municipal programa mais óperas para o semestre do que havia em anos inteiros, e pianista que assume a Sala promete 'mergulhar' na música brasileira POR EDUARDO FRADKIN
24/07/2015 6:00

 

Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
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João Guilherme Ripper, presidente da Fundação Theatro Municipal.

RIO — Desde 2010, o Teatro Municipal do Rio realiza uma média de três óperas e quatro balés por ano (incluindo remontagens). A título de comparação, o Municipal de São Paulo teve, ano passado, seis óperas inéditas, e seu Balé da Cidade de São Paulo dançou sete programas. Quando as cortinas do principal palco lírico do Rio se reabriram em 2015, a direção havia mudado. No lugar de Carla Camurati, o novo gestor, Isaac Karabtchevsky, anunciou que só conseguiria montar duas óperas — "Fidelio", encenada de fato em abril, e "O navio fantasma", em outubro — e um espetáculo de balé, pois não recebera de sua antecessora uma programação para o ano. Cinco meses depois, ele se demitiu. Pano rápido. O compositor João Guilherme Ripper, há 11 anos à frente da Sala Cecília Meireles, é chamado às pressas para a vaga. Aceita-a e traz o maestro André Cardoso, de saída do comando da Escola de Música da UFRJ, para a direção artística do teatro. Em pouco menos de um mês, a dupla programa quatro óperas, dois balés e quatro concertos corais-sinfônicos para este semestre. Ao mesmo tempo em que o centenário teatro renasce, a Sala Cecília Meireles e a Escola de Música da UFRJ também ganham novos gestores, o pianista Jean Louis Steuerman e a maestrina Maria José Chevitarese, respectivamente.

— O teatro tem que produzir um número mínimo de óperas e balés por ano. O ideal é produzir três óperas por semestre e quatro balés por ano. Dentro dessas seis óperas anuais, temos que ter uma em remontagem, talvez do próprio teatro, pelo menos uma ópera brasileira, uma ópera do século XXI, possivelmente em primeira audição, e também novas produções (de títulos clássicos) — diz Ripper, que, neste primeiro momento, apostou em parcerias com outros teatros. — Tem produções prontas, premiadas, que nunca vieram ao Rio, e elas representam uma economia na ordem de 40%, então por que não trazê-las? No dia 3 de agosto, começa a venda da série de assinaturas para as quatro óperas do semestre (de R$ 84 a R$ 236). Dia 8 de setembro, iniciam-se vendas avulsas. A primeira ópera será "Don Pasquale", de Donizetti, dia 25 de setembro. — "Don Pasquale", dirigida pelo André Heller, vem da companhia Buenos Aires Lírica. Buscamos no Theatro São Pedro (em São Paulo) a premiadíssima produção de "As bodas de Fígaro" (de Mozart), da Livia Sabag. Outra produção premiada foi "A menina das nuvens", de Villa-Lobos, do Palácio das Artes (em Belo Horizonte). E vamos encerrar o ano com "O menino maluquinho", uma ópera do Ernani Aguiar, em coprodução com a Dell'Arte. Tem libreto do Ziraldo, estreou em Juiz de Fora e nunca foi remontada — detalha André Cardoso. — Queremos uma valorização da produção nacional. Temos uma ópera de Villa-Lobos e uma produção de um compositor contemporâneo, o Ernani Aguiar. Também valorizamos os artistas líricos brasileiros. Então, temos uma enorme variedade de cantores, de solistas, todos brasileiros, alguns com carreira no exterior, que estão vindo para assumir os papéis. A maior parte dos elencos já está fechada.

 

TEATRO TERÁ APP PARA VENDA DE INGRESSOS

 

Ripper conta que "O navio fantasma", produção de Bayreuth agendada para outubro, foi cancelada porque seu custo era alto e inviabilizaria outros títulos. — A economia não é a diretriz. A diretriz é a qualificação do gasto. É o gasto eficiente — diz ele, que planejou para o Balé do Municipal uma turnê pelo estado do Rio em agosto e o retorno à casa em outubro com o espetáculo "Age of innocence" (coreografado por Edwaard Liang) e com o oratório "O messias", de Händel, em versão do coreógrafo Mauricio Wainrot, em dezembro (não haverá "O quebra-nozes" este ano). 

Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
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MARIA José Chevitarese, nova diretora da Escola de Música da UFRJ.

Durante o mês de agosto, a orquestra e o coro terão bastante trabalho: farão quatro concertos. O primeiro deles, dia 7, terá a sinfonia nº 35 de Mozart e o "Te deum" de Bruckner.

— O concerto sinfônico no Teatro Municipal não pode ser um simples preenchimento de palco no momento em que não se tem ópera ou balé. O que nós propusemos nesses concertos é ter sempre a participação do nosso coro, que é o nosso diferencial. Então, faremos um repertório que não se ouve constantemente nos programas das duas orquestras profissionais que fazem música sinfônica na cidade — explica Cardoso. Com a programação arquitetada, a dupla já parte para outras empreitadas. — Iniciamos um trabalho de reforma total do site e de criação de um aplicativo que dê a oportunidade de uma comunicação imediata do teatro com o público, que transmita o conteúdo do Municipal, sua programação, e permita comprar ingressos. O teatro precisa falar — afirma Ripper, que foi o responsável por convencer o pianista clássico Jean Louis Steuerman a ocupar sua vaga na direção da Sala Cecília Meireles. Inexperiente na função de gestor, Steuerman, que assumiu o cargo na última segunda-feira, terá como braço-direito, ocupando a chefia de divisão artística, a produtora Lisia Fernandez, que atuou por dez anos na Orquestra Sinfônica Brasileira e está há um na Dell'Arte. E ele conta com outro trunfo: humildade. — Tem áreas que eu entendo muito menos do que outras, e eu não tenho o menor problema em pedir ajuda a pessoas que conhecem mais do que eu. Eu passei muito tempo fora do país e não conheço bem a música brasileira atual. Pretendo mergulhar nisso e me informar o máximo possível, ouvir tudo o que puder — diz o novo diretor da Sala, que planeja manter o estilo musical eclético de sua programação, com shows de jazz e música popular brasileira, mas com certas restrições. — A Sala não pede uma orquestra enorme, com 14 primeiros violinos, ou mesmo música pop amplificada. Ela pede música de câmara, pequenas orquestras e shows com amplificação sutil. Aos 66 anos, Steuerman se lembra da estreia naquele local, 49 anos atrás. — Eu andei até relendo a crítica, do Eurico Nogueira França. Ele achou que eu tinha tocado alguns movimentos da partita nº 2 de Bach muito rápido — diz, sorrindo. — O Ripper foi quem me convenceu a aceitar a direção da Sala. Eu estava relutante e inseguro. Eu tenho outra profissão, vou continuar tocando piano com regularidade, embora não na Sala, e agora ainda quero ser maestro. Meus empregadores entenderam esse lado. Mês que vem toco em Belo Horizonte, em setembro na França, em outubro na Inglaterra, e em dezembro vou para a Ásia. Eu pretendo usar os contatos que faço nas viagens em prol da Sala. Quero trazer para cá músicos formidáveis que encontro pelo mundo. E brasileiros formidáveis também. Os melhores músicos do mundo não são os mais caros. Se alguém sentir que eu não o convidei, quero que me perdoe e chame a minha atenção.