Personalidade aliada à técnica

Explicou Liduino Pitombeira, premiado compositor e um dos docentes do Departamento de Composição da Escola de Música da UFRJ que, no caminho do aprendizado da produção de obras musicais é comum o fato de os discentes se depararem com algumas dificuldades.

 Foto: Divulgação
 
 Pitombeira com alunos, após recital.
 AutoreS e peças - MAX KÜHN, Suíte para quinteto de sopros; FREDERICO MARQUES, Divergências; CLAUDIA USAI, Duas Paixões; ADRIEL VITURINO, Pedrosa; LUCAS CHABOUDET, Commedia dell Arte; DANIEL MUSSATTO, Danças de Arstotzka; BRUNO SOUZA, Desprovidos de Alcunha, e LENNON BARBOSA, Bad Cage.

 

Concatenar fragmentos musicais, compostos a partir de referenciais teóricos e estéticos, dando origem a uma peça inteira; combiná-los; sentir como uma parte junto à outra está soando em termos de suas relações contrapontísticas e harmônicas; verificar se a obra foi realmente concluída; se precisa ser alongada; se os gestos iniciais soam abruptos; se suas partes constituintes estabelecem uma conexão coerente; são, entre outras, complexidades que se fazem presentes durante o processo de planejamento e criação. Superadas estas complexidades, outras ganham vida no momento em que a peça musical se desloca da partitura para a vivência instrumental, porque é nesta etapa que surgem as dificuldades técnicas de execução. Ou seja, trechos difíceis ou mesmo impossíveis de serem executados, trechos que não soam como se esperava que soassem etc. E nada diferente destas dificuldades descritas aconteceu durante o processo de criação das oito peças musicais compostas por Max Kühn, Frederico Marques, Claudia Usai, Bruno Souza, Adriel Viturino, Lucas Chaboudet, Daniel Mussatto e Lennon Barbosa, alunos do terceiro período da disciplina de Composição , da Classe de Liduino Pitombeira, quando ainda cursavam o primeiro período da disciplina. Mas, durante a etapa das respectivas vivências instrumentais e posteriores estréias mundiais, realizadas no dia 9 de maio do ano em curso, em um dos concertos da Série Talentos da Escola de Música da UFRJ, o caminho percorrido por estes alunos, que Liduino adjetiva de excelentes, foi contemplado com uma valiosa parceria com o Quinteto Lorenzo Fernandez. Ao retornar à Escola de Música, depois de já estabelecido no mercado fonográfico, para junto aos citados alunos experienciar a vivência instrumental das obras por eles compostas e depois interpretá-las, o Quinteto Lorenzo Fernandez, de sopros de madeira, que é decorrente do trabalho do professor Aloysio Fagerlande, em Práticas Interpretativas, tornou evidente que seus componentes não se distanciaram de uma característica singular da Escola de Música da UFRJ. Essa característica reside no fato de ser a Escola detentora de uma grande capacidade de performances musicais que ganham materialidade em grupos instrumentais e vocais estáveis, com os quais todos aqueles que recebem a formação acadêmica da Escola de Música da UFRJ têm a oportunidade de ajustar, aprimorar e concretizar o caminho da produção e formação artística. E em acordo ao compositor e professor Liduino, esta grande capacidade da Escola de Música em muito tem contribuído para a formação de seus alunos, uma vez que ela possibilita que, a cada semestre letivo, ele trabalhe com seus discentes da disciplina de Composição, objetivando uma formação instrumental, com uma linha de instrumentos. Nesse sentido, no segundo semestre letivo de 2015, seus alunos produziram obras para o Quinteto de Metais da UFRJ, coordenado pelo professor David Alves, que serão apresentadas ao grande público neste segundo semestre de 2016. E no primeiro período letivo de 2016, os discentes trabalharam com o Grupo de Saxofones, coordenado pelo professor Pedro Bittencourt, e com um Duo de Percussão, recentemente estabelecido na Escola de Música por Tiago Calderano e Pedro Moita. Na entrevista, Liduino chamou a atenção para um interessante fato: mesmo utilizando um único texto que concedeu aos seus alunos o suporte teórico para trabalhar com os materiais pós-tonais, de certa forma inseridos na linha da Segunda Escola de Viena, o resultado foi concretizado em obras de estilos totalmente diversos, numa precisa demonstração de que as respectivas personalidades dos autores se sobrepõem a uma mesma fonte e ficam impressas nas composições.