"Nos anos de 1920 dizia-se que o violão era o alto-falante da alma brasileira. Quase um século depois, a frase ainda ?tem muito de verdade", afirma a violonista e pesquisadora Marcia Taborda, professora da Escola de Música (EM), onde coordena o Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos do Violão (NEV).
Foto: Silvana Marques | |
Marcia reuniu um farto material na pesquisa e toda essa viagem ao túnel do tempo vem acompanhada por obras musicais executadas com base nas gravações originais. O violão se consolidou na música popular brasileira ao assumir o papel de um importante instrumento de harmonia, que hoje serve de acompanhamento para os principais gêneros da nossa música popular.
O seu uso sempre foi abrangente. Por exemplo, muito antes da estética bossa-novista, que consagrou internacionalmente a sonoridade cadenciada de "um cantinho, um violão", presente nos versos de "Corcovado", do maestro Tom Jobim, o violão foi um pilar de gêneros nascidos antes, como modinhas, lundus, choros e maxixes. E seguiu reafirmando o seu valor ao desenhar as batidas do samba, do samba-canção e da bossa-nova. Para desvendar as origens da viola e do violão no Brasil, e especificamente no Rio, a pesquisadora percorreu diversos acervos históricos, nos quais encontrou relatos de viajantes, fontes hemerográficas, iconográficas e registros musicais, em locais como o Centro Cultural do Banco do Brasil e Museu Imperial de Petrópolis, e, principalmente, a Biblioteca Nacional. "Desde os primeiros tempos da colônia, o violão se tornou um fiel depositário das emoções do povo brasileiro", diz Marcia Taborda, também autora do livro "Violão e identidade nacional: Rio de Janeiro 1830-1930", lançado pela Civilização Brasileira, em 2011.
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Três mulheres, três descobertas
Entre as descobertas valiosas de Marcia Taborda, destaque para uma carta manuscrita da imperatriz Leopoldina (1797-1826), em janeiro de 1818, destinada ao irmão Francisco I, que vivia na Áustria. A imperatriz relata o estudo do violão como parte da sua rotina diária na casa de São Cristóvão, ao lado do marido Dom Pedro I: "(...) À uma hora estudo violão e, com o meu esposo, piano; ele toca viola e violoncelo, pois toca todos os instrumentos, tanto os de corda como os de sopro; talento igual para música e todos os estudos, como ele possui, ainda não tenho visto (...) É este, todos os dias, o meu modo de viver". O violão também fez parte da rotina de outra mulher da alta sociedade do seu tempo: Nair Teffé (1886-1981), mulher do presidente Hermes da Fonseca. Nair apresentou no Palácio do Catete o tema "Gaúcho", de Chiquinha Gonzaga, conhecido como "Corta-Jaca", um ritmo sensual que escandalizou a sociedade da época e gerou um pronunciamento crítico de Rui Barbosa, em novembro de 1914. Para alfinetar o rival político, ele atacou o "Corta-Jaca" como"a mais baixa, a mais chula e grosseira de todas as danças selvagens". Essa história, que já entrou para o folclore da música popular brasileira, é recontada por Marcia com um diferencial. "Na verdade, Nair escolheu a música a fim de prestigiar composições nacionais, escritas em português", enfatiza. No DVD, ela interpreta a partitura original, que está no caderno de músicas da ex-primeira-dama – que, ao contrário do que se pensava, executou um solo de violão. Mais uma mulher fecha a trilogia de descobertas importantes da pesquisadora. A violonista Olga Praguer Coelho, para quem Villa-Lobos criou a versão da "Bachianas número 5". "Os violonistas que fizeram a história da música carioca na verdade vieram de diversas cidades do país para o Rio. João Pernambuco, Dilermando Reis, Garoto, Turíbio Santos e João Gilberto desenvolveram as suas carreiras transitando pelas rádios, casas de espetáculos e estúdios cariocas. A obra para violão de Heitor Villa-Lobos também é um marco dessa época. Olga, nascida em Manaus, era uma senhora da sociedade que se casou com o mestre Andrés Segovia, completava esse cenário", conta a pesquisadora.
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