176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

A harmonia musical e suas diferentes abordagens

A obra que tem por título Harmonia: Uma proposta de perfil conceitual, lançada em 8 de abril, no foyer do Salão Leopoldo Miguez, é resultado da tese de doutorado defendida, na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, pelo professor Fábio Adour.

 

Será levado a cometer um erro de julgamento, o leitor que, induzido pelo título, pensar ser esta mais uma das muitas obras existentes que tratam da combinação e sobreposição das notas que dão origem ao acompanhamento de uma composição musical, pois a obra de Fábio Adour é, seguramente, um divisor de águas na literatura que há quase três séculos trata da harmonia musical.

 

 Capa do livro
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Evidentemente, esta afirmativa não deve ser creditada apenas ao confronto feito entre diferentes tratados da música clássica que, até a década de 80, deles excluem a música popular ao registrarem encadeamentos que só acontecem na música erudita, e os livros que, a partir de 1945, com a fundação do Berklee College of Music, passaram a explicar a música popular como se a harmonia fosse uma tábula rasa. A afirmativa também não pode ser só atribuída à criteriosa revisão do sistema de cifras da música popular contidas em revistas e livros musicais, feita pelo autor, e nem tampouco pela questão de valores atribuídos a um ou a outro estilo de música que é, igualmente, discutida na obra. A soma de todas essas contribuições acrescida da proposta que contempla uma nomenclatura única para todas as abordagens da harmonia musical, além de ficar demonstrado que, em determinados contextos, a ambiguidade existente entre a música popular e a clássica nada mais é do que um problema didático, quando se trata de nomear as notas e suas combinações, é o que faz com que a obra de Fábio Adour de outras se destaque. Para evidenciar esta tese e a certeza de que a harmonia é uma só, ele, que desenvolveu sua pesquisa musical junto a conhecimentos do campo educacional, recorre à Didática, à Filosofia da Linguagem e às bases sociais do conhecimento. Assim, fundamentado em Mikhail Bakhtin, ele realiza uma análise dos discursos utilizados por alunos e docentes em salas de aulas. E, em sua análise, são detectadas três formas de abordar a harmonia. A auditiva instrumental, aquela em que o músico não sabe verbalizar aquilo que diz respeito ao instrumento e ao som que domina e que, certamente, foi a que deu origem à frase recolhida por Fábio Adour, na pesquisa de uma docente da UFMG, na qual um aluno conclui que a harmonia da música clássica e a da música popular "são duas harmonias diferentes". As duas outras formas de abordar a harmonia adjetivadas por ele de históricas dizem respeito: àquela que intitula de zona histórica clássica, que alude à tradição de abordar a harmonia só através da música clássica e, a outra, por ele denominada de zona histórica popular, instituída na Universidade de Berklee, que se reporta à tradição de criar uma teoria própria para avaliar a harmonia da música que vinha sendo negligenciada pelos estudos da música clássica. Mas, por, seguramente, estar em conformidade à reflexão de Jean- Claude Forquin, da qual apreende-se que nem sempre "a obra do escritor ou do artista, ou o pensamento do teórico são diretamente comunicáveis ao aluno", Fábio Adour apresenta em sua obra a proposta de uma quarta forma de abordar a harmonia musical. Intitulada de zona histórica expandida, ele ciente de que, no "empreendimento educativo" deva ser transmitido aquilo que "ao longo dos tempos pôde aceder a uma existência "pública" que se cristaliza "nos saberes cumulativos(...), nas obras admiráveis", propõe que nesta forma de abordagem da harmonia não sejam abandonados os discursos da zona histórica clássica e os da zona histórica popular. Ao contrário, que sejam eles somados a esta nova forma que abre também espaço também para a linguagem cotidiana do aluno, com vista a equacionar a dicotomia entre a harmonia da música clássica e da música popular.

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