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A restauração de um patrimônio secular

O entrevistado deste mês, Paulo Roberto Tavares Bellinha, é o responsável pela execução do projeto de ampliação e restauro do conjunto arquitetônico da Escola de Música da UFRJ. Coordenador de Preservação de Imóveis Tombados do Escritório Técnico de nossa Universidade – COPRIT/ETU, desde o ano de 2006, o arquiteto, com doutorado em Sociologia pela Université Réné Descartes - Sorbonne Paris V, nos fala com entusiasmo sobre a importância de um projeto desta magnitude não apenas para a Escola, mas para a vida cultural da cidade do Rio de Janeiro.

 

Paulo explica as demolições, levantamentos e análises que estão sendo executados na atual etapa da restauração do Prédio de Aulas, bem como nos faz saber das duas etapas de reconstituição seguintes a esta que dizem respeito às primeiras intervenções no Prédio Principal. Informa também sobre projetos executivos, básicos e orçamentários que se farão necessários futuramente.

 

 Foto: Rafael Reigoto
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Para você, arquiteto, o que significa ser responsável pela execução de um projeto de restauração de um patrimônio arquitetônico e cultural da cidade do Rio de Janeiro?
PB - Restaurar um patrimônio secular de tal importância cultural realmente é um privilégio que poucos podem se orgulhar de ter em seu currículo. O atual Pavilhão Principal da Escola de Música foi anteriormente a Biblioteca Nacional, que se mudou para as instalações atuais na Av. Rio Branco no início do século XX. O atual Pavilhão de Aulas da Escola de Música recebeu em 1913 a transferência do Conservatório de Música, prédio também de propriedade da UFRJ, atualmente cedido para o município para abrigar o Centro Cultural Hélio Oiticica. A ideia original era termos a restauração concluída para a comemoração do centenário do imóvel, mas devido a problemas de ordem orçamentária, infelizmente, somente iniciamos as obras em janeiro deste ano. Mas o que podemos certamente nos orgulhar é de ter dado o passo decisivo para a implantação do Projeto de Restauração e Ampliação da Escola de Música, que pretende dotar a cidade do Rio de Janeiro de um local digno para o ensino, pesquisa e extensão da prática musical, o que certamente vai se refletir na qualidade da programação cultural oferecida aos cariocas e visitantes e também na paisagem urbana da Lapa. Você poderia nos dizer quais são as intervenções técnicas de engenharia e de arquitetura exigidas para a restauração das fachadas e telhado do antigo prédio de aulas?
PB - Em primeiro lugar, convém esclarecer que esta é apenas uma das etapas do projeto, que inclui ainda uma nova edificação a ser construída na área onde foram demolidos os anexos que não eram tombados, ou espúrios como se diz no jargão dos profissionais da área, além de uma nova configuração paisagística para revalorização e proteção do conjunto formado pelas duas edificações e painel tombados pelo município. Nesta etapa estamos fazendo levantamento e análise laboratorial das argamassas de revestimento, prospecções estratigráficas para pesquisa e confirmação da paleta de cores utilizadas na edificação, além de projeto executivo para restauração das esquadrias e execução de nova cisterna, com demolição da antiga, em péssimo estado de conservação, da cantina e dos anexos espúrios. Também por uma questão orçamentária, apenas as áreas de argamassa serão tratadas, inclusive as da fachada de fundos do Pavilhão Principal, onde se localizava a cantina, em avançado estado de degradação. A fachada posterior da biblioteca, voltada para o terreno da ESDI e ocultada por um puxadinho já pode ser apreciada atualmente por quem transita na região, mas as esquadrias, por serem de uma execução mais cara e por necessitarem de uma proteção acústica devido ao trânsito na região, serão executadas posteriormente. Então o prédio de aulas ainda não estará pronto para ser usado após o término desta etapa, em abril de 2016?
PB - Esta etapa de obras não encerra a restauração, ela será seguida por várias outras. Duas já estão a caminho: a primeira, com processo já aberto e tramitando, envolve os projetos executivos e execução das obras no terceiro e quarto pavimentos do Prédio Principal, e a segunda pretende concluir a fase de restauração do Principal, inclusive seu térreo, além da contratação dos projetos do Pavilhão de Aulas. Com a total interdição do Principal para execução de todas as obras acima listadas, necessitaremos de uma área de manobra para atividades que não poderão ser transferidas para outro local. Não será possível o retorno imediato ao Pavilhão de Aulas. Além de ser obrigatoriamente esvaziado, por uma questão de segurança, é necessário aproveitar a ocasião para revermos toda sua rede elétrica, em situação crítica. Paralelamente estamos trabalhando junto à Light para termos o aumento de carga e a instalação do sistema de ar condicionado para o Principal e Leopoldo Miguez, local onde os dutos já estão instalados, mas os equipamentos não foram ainda comprados por não termos uma rede elétrica que comporte sua instalação. E as próximas etapas do projeto?
PB - As próximas etapas de restauração do Prédio Principal já estão definidas por já termos um Projeto Básico orçado e com previsão de contratação dos Executivos quando da realização de parte das obras. Pretendemos, com a contratação da fase de obra seguinte, ter os projetos básicos do Pavilhão de Aulas e novo edifício de aulas desenvolvidos até a conclusão desta fase. Só teremos, porém, uma estimativa do orçamento. É nesse ponto que poderemos brigar por dotação orçamentária ou conseguir patrocínio para viabilização de um cronograma que possibilite sua execução, sendo que seria viável pensarmos na execução das redes elétricas e hidráulicas a partir do desenvolvimento dos Projetos Básicos, mas não antes. Para a subestação, será necessário termos todos os projetos definidos para que, com o somatório de cargas projetadas, possamos decidir se haverá necessidade de sua construção ou se a Light poderá nos atender em baixa tensão. Tudo dependerá do momento em que as obras forem concluídas, vamos ver como as coisas evoluirão... Em que fase se encontra? O projeto executivo já foi orçado?
PB - Os custos para desenvolvimento dos Projetos Básicos e Executivos já foram orçados apresentados à Direção, mas não sua execução, o que só será possível após o desenvolvimento dos Executivos. Pretendemos associar o desenvolvimento dos Básicos à execução das obras no térreo do Pavilhão Principal na medida em que há uma grande área de interferência das três edificações que precisarão ter todos os seus projetos compatibilizados em algum momento. E este é o momento mais importante do projeto. Pretendemos utilizá-lo de uma forma proveitosa. Veremos se haverá viabilidade orçamentária e disposição política para implantá-lo na ocasião em que a situação se apresentar, só então poderemos definir a contratação dos Executivos para que a construção do prédio finalmente seja viabilizada. Desta forma conseguiremos concluir com sucesso o Projeto de Restauração e Ampliação da Escola de Música. Como você pode ver muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte...

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