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Concertos UFRJ: Gigli canta no Teatro João Caetano

Concertos UFRJ homenageiam o bicentenário do Teatro João Caetano, o mais antigo do Rio de Janeiro, com um especial que recupera o recital que o lendário tenor italiano Beniamino Gigli realizou em 1951 naquela casa de espetáculos, quando em turnê pelo Brasil e Argentina. Um verdadeiro documento histórico em áudio que remete a uma época de ouro da arte lírica no país.

 

O concerto, marcado às pressas para a manhã do dia 24 de setembro em razão do enorme sucesso da apresentação do tenor, dias antes, no Salão Leopoldo Miguez da Escola Nacional de Música, atraiu um público entusiasmado que lotou o teatro.

  
 
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Ouça aqui o programa: 

 
 
Toda segunda-feira, às 22h, tem "Concertos UFRJ" na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!
Programas anteriores podem ser encontrados na seção Concertos UFRJ.
  

 

A gravação do espetáculo foi restaurada a partir da matriz original em 78 rotações e lançada pelo Instituto Discográfico Italiano. A narração é original do locutor da Rádio Jornal do Brasil, que anuncia cada uma das obras e não deixa de mostrar admiração pelo músico. O recital contou com a participação do pianista Patrício Martinez Grau e, nele, Gigli interpretou canções e árias de Ambroise Thomas, Stefano Donaudy, Claudio Monteverdi, Franz Schubert e Edvard Grieg, Haendel, Bizet e Gaetano Donizetti. Como era então costume, as árias em francês foram cantadas em versão para o italiano.

 

Afora o resgate de uma das vozes mais marcantes do século passado, constitui um importante retrato de uma época em que as temporadas líricas da cidade contavam com os melhores cantores em atuação no momento. Além do próprio Giglie, Maria Callas, Renata Tebaldi, entre outros.

 

Gigli voltaria a cantar novante no João Caetano no dia 23 de outubro. Nessa ocasião, acompanhado pelo pianista Enrico Silvieri. Dessa segunda apresentação do tenor o programa mostrou a sua interpretação de duas canções de Stefano Donaudy (“Quand'il tuo diavolo nacque” e “Vaghissima sembianza”); da ária “Quando le sere al placido”, da ópera Luisa Miller, de Verdi.

 

Como bônus, a edição destacou outra apresentação de Gigli na turnê de 1951, agora no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em trechos da montagem da ópera Manon Lescaut, de Puccini. A gravação, datada de 31 de agosto, traz o tenor em duo com o soprano, também italiana, Elisabetta Barbato e a Orquestra do Theatro Municipal, sob a regência de Antonino Votto.

 

História

 

O João Caetano, com o nome de Real Teatro de São João, foi inaugurado em 13 de outubro de 1813, por Dom João VI, para comemorar o décimo quinto aniversário de seu filho, futuro Dom Pedro I. Construído com material destinado à nova Sé, foi inspirado no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. O teatro passou, ao longo dos seus 200 anos, por vários incêndios e reconstruções, recebendo também diversos nomes: Imperial Teatro São Pedro de Alcântara, Theatro Constitucional, e, finalmente, Teatro João Caetano.

 Reprodução
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 Acima, pintura da fachada do Teatro São João por Jean Baptiste Debret (c. 1834). Abaixo, vista aérea do Teatro João Caetano.

 

Quando Dom Pedro I foi nomeado príncipe regente jurou fidelidade à Constituição Portuguesa de uma de suas varandas. No local também foi promulgada, em 1824, com a presença do imperador Dom Pedro I e da imperatriz Leopoldina, a primeira Constituição brasileira. Durante a solenidade o edifício pegou fogo, sendo reinaugurado em 1826. Com a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, o teatro foi invadido e depredado e, depois de reconstruído, passou a se chamar Teatro Constitucional Fluminense. O prédio ficou sete anos fechado, foi leiloado pelo Banco do Brasil e reaberto em 1838. Mais tarde foi arrendado pelo ator e produtor cultural João Caetano. Em 1851 ocorreu novo incêndio. No ano seguinte, João Caetano iniciou a reconstrução da casa, reaberta em 1855, quando atuaram ali Eleonora Duse e, no início de 1856, Sarah Bernhard. No entanto, neste mesmo ano novo incêndio atingiu o edifício, que ficou reduzido a escombros. Reconstruído mais uma vez por João Caetano, o teatro foi reinaugurado em 1857. Em 1928, o prefeito Antonio Prado Júnior mandou demolir o prédio para a construção de uma nova casa de espetáculos. O projeto gerou polêmica: as críticas lamentavam a demolição do edifício, cujas formas ecléticas já faziam parte da paisagem da Praça Tiradentes. Prado Junior optou por uma nova edificação, influenciado também pelos modernistas e a vanguarda europeia. Reinaugurado em 1930, o teatro recebeu o nome de João Caetano. O projeto, dos engenheiros Gusmão, Dourado & Baldassini, também contemplava a iluminação da Praça Tiradentes e a fachada do novo teatro contava com jogos de luzes que ressaltavam seus vitrais e suas formas. O novo prédio, em concreto armado no estilo art déco, era bastante arrojado para a época. Em 1978, o João Caetano mais uma vez passou por reforma. O projeto foi assinado pelo arquiteto Rafael Peres e entregue ao público no ano seguinte. A lotação atual é 1.143 lugares.

Gigli

 

Beniamino Gigli nasce em Recanati, uma província de Macerata, Itália, e mostrou desde cedo grande facilidade para o canto, sendo aceito no Coro Pueri Cantores, da Catedral da província. Mais tarde estudou com o maestro Quirino Lazzarini, organista e diretor do Coro da Santa Casa de Loreto. Em 1911, venceu um concurso que o permitiu entrar no Santa Cecília, em Roma, sob os ensinamentos de Enrico Rosati.

 

 Foto: Reproidução
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Gigli fez sua estreia com o personagem Enzo, de Gioconda, uma ópera de Amilcare Ponchielli no Teatro Social de Rovigo em 15 de outubro de 1914, depois de vencer outro concurso em Parma. Em novembro de 1918 cantou pela primeira vez no La Scala de Milão, na ópera Mefistofele de Arrigo Boito, com a direção de Arturo Toscanini.

 

Em 26 de novembro de 1920 estreia no Metropolitan Opera de Nova Iorque, novamente com a obra Mefistofele. Seguido de Andrea Chérnier de Umberto Giordano, que cantou por onze tempordas consecutivas, La Bohème de Puccini, L'elisir D'amore de Gaetano Donizetti e outros sucessos. Foi o principal tenor do Metropolitan Opera por doze anos seguidos, sucedendo o mito italiano, Enrico Caruso.

 

Em 1932 retornou a Roma. Depois da guerra voltou à atividade, apenas se aposentando em 1955.

 

Uma das mais belas vozes do séc. XX, especialmente no repertório lírico italiano, notabilizou-se como intérprete de Verdi, Donizetti e, em especial, das obras veristas, com destaque para suas criações de Cavalleria Rusticana, de Mascagni, e Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo. Popularizou também as chamadas cancões napolitanas e encenou 16 longas-metragens nas décadas de 1930 e 1940, contracenando com Alida Valli, Isa Miranda, Maria Cebotari entre outras intérpretes famosas.

 

Ao Brasil, de 1920 a 1951, veio oito vezes. Na sua última temporada entre nós, gravou duas famosas canções brasileiras: Mimosa, escrita por Leopoldo Fróes, e “Casinha Pequenina”, modinha de autor desconhecido. Em 1937 já havia gravado duas árias de Carlos Gomes: “Quando Nascesti Tu”, de Lo schiavo; e “Vanto lo Pur”, de Il Guarany.

 

Em 1955 Gigli fez a turnê de adeus aos Estados Unidos, com três concertos, em abril no Carnegie Hall, que estão publicados em LP. O último concerto de sua vida aconteceui em 25 de Maio de 1955 no Constitution Hall de Washington.

 

Morreu no dia 30 de novembro de 1957, com 67 anos, em decorrência de um ataque de broncopneumonia.

 

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Parceria da Escola de Música (EM) com a rádio Roquette Pinto, a série Concertos UFRJ conta com a produção e apresentação de André Cardoso, docente da EM, e vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94,1 FM. As edições do programa podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast, audio sob demanda, da rádio Roquette Pinto. Contatos através do endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

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